sábado, 4 de setembro de 2021

Carta aos irmãos no Brasil

Carta aos irmãos no Brasil

2 de Setembro de 2021


Queridos irmãos, já faz um bom tempo que não escrevo uma carta dando notícias do que tem acontecido por essa bandas na terra do McDonald's e Burger King. Em parte isso se deu pela quantidade de responsabilidades e atividades que tenho estado envolvido esse ano e também devido a algumas questões que precisavam ser resolvidas antes de eu retomar esse hábito.


Como muitos de vocês já sabem, eu me debandei para o presbiterianismo depois de amadurecer algumas convicções teológicas, principalmente no que se refere ao reconhecimento da teologia do pacto inegavelmente presente nas escrituras. 


Essa é uma história mais longa e que não cabe tratar nessa carta, mas o importante a ser dito aqui é que tenho sido acolhido e tratado de forma muito graciosa pela liderança da igreja presbiteriana da qual me tornei membro. O Senhor abriu portas inesperadas e me abençoou grandemente com o contato de alguns pastores muito especiais de Belém do Pará. E agora, enquanto escrevo essa carta, já posso dizer que sou oficialmente membro da Igreja Presbiteriana Jardim Maguari. 


Aos irmãos da Igreja Jardim Maguari que possam estar lendo essa carta, saibam que eu já estou ansioso pela oportunidade de visitar a igreja, assim que for possível uma viagem ao Brasil, para poder conhecê-los pessoalmente e ter um bom tempo de comunhão com vocês. Inclusive, fiquem sabendo que eu ainda estou lembrado que no grupo da igreja me prometeram um cuscuz com manteiga e café quando chegar aí. E eu vou cobrar!


Mas brincadeiras à parte, deixem-me dar um retorno de como foi meu primeiro semestre, meu verão (que aqui é no meio do ano) e do que me espera nesse semestre que começa agora para poder deixar os irmãos a par de como as coisas tem sido aqui, e prover algum material de oração para que os irmãos orem por aquilo que está por vir. 


No primeiro semestre eu paguei 7 disciplinas. Isso sem contar a disciplina de formação espiritual que é obrigatório pagar todo semestre e que funciona como um tipo de mentoria um a um com os alunos. As outras disciplinas que cursei foram Eclesiologia, Teologia Bíblica, Prolegomena (ou Introdução à Teologia Sistemática), Prática de Pregação, Homilética 1, História da Igreja Antiga e Grego 2. Foi um semestre um pouco puxado mas também muito proveitoso. Todas as disciplinas foram boas, mas pagar homilética com Dr. Beeke foi uma experiência simplesmente maravilhosa. Tive a oportunidade de no final do semestre pregar em uma igreja batista também em que pude colocar em prática um pouco do que aprendi.


Nas férias de verão eu também estive bastante ocupado, como vocês podem ver em seguida. Paguei outras três disciplinas de férias intensivas: Apologética, Culto e Liturgia, e Evangelismo. Cursei as duas primeiras ainda aqui em Grand Rapids em Junho. Em Julho viajei para pregar em Denver, Colorado, onde fiquei por duas semanas. Passei uma semana aqui e viajei no final do mês novamente para um estágio super curto, mas também intensivo, em uma igreja presbiteriana em Providence, Rhode Island. 


Aprendi muito lá em Rhode Island sobre o modelo de missão paroquial reformado, e pude evangelizar bastante de porta em porta. Tinham muitos imigrantes, então pude evangelizar bastante em espanhol, e um pouco também em português. A experiência desse último estágio está resumida numa carta escrita pelo próprio Pr. Michael Ives, que me supervisionou e acompanhou por lá, a qual vocês podem encontrar também no meu blog na aba de cartas.

 

Já de volta a Grand Rapids, cursei o meu último curso intensivo de verão (Evangelismo) que já emendou com o início do semestre que começou há pouco no dia 30 de agosto.


Esse semestre que começou também promete ser puxado. Estou cursando duas disciplinas de línguas bíblicas em paralelo o que consome bastante tempo (Hebraico 1 e Métodos de Exegese de Grego). Peço oração aos irmãos quanto a isso. As outras disciplinas que estou cursando são: Teologia de Agostinho, Introdução a Aconselhamento Bíblico, Ministério de Jovens, Prática de Pregação e Cristologia. Além disso, estou cursando como ouvinte Três Formas de Unidade, que é sobre os documentos confessionais que a igreja holandesa subscreve.


Pois é, como eu disse foi um ano bem cheio, e o semestre que está por vir também tem muitas disciplinas e muitos desafios. Mas eu estou confiante que o mesmo Deus que me trouxe aqui e me proveu em todas as minhas necessidades vai continuar provendo segundo sua muita misericórdia (1 Pedro 1:3). O que é sustentar um seminarista diante de salvar um pecador? Se ele já fez aquilo que é impossível, certamente posso confiar nEle para aquilo que é apenas difícil.


E irmãos, para vocês que estão lendo essa carta, os convido a meditar nessa maravilhosa verdade do evangelho também, a verdade de que Deus é um Deus provedor. E não só pensar sobre isso como uma verdade abstrata, distante e pouco relevante para sua vida, mas como uma verdade transformadora do Evangelho.


Pare para pensar, meu irmão. Um dia você era um pecador, rebelde, distante do Senhor. Seus ídolos eram o reconhecimento de homens, louvor dos seus amigos, dos seus parentes, dos seus colegas de trabalho. Seu prazer estava no dinheiro e no comforto que você comprava com ele; nos prazeres desregrados desse mundo e na vaidade de se orgulhar diante dos homens; no poder para controlar os outros e controlar situações: mandar e ser obedecido, planejar e fazer acontecer.


E Deus mudou tudo isso! Mudou os seus próprios desejos, lhe deu um novo coração que ama a Deus e odeia o mundo. O Senhor lhe transplantou do reino das trevas e o plantou no reino do filho do seu amor. Lhe tirou os ídolos que dominavam o seu coração e arrancou o amor pelo mundo ao lhe conquistar com um amor muito superior, o amor do Pai. Aquele amor eterno e insondável que é manifesto em mandar o seu próprio filho unigênito para pagar o preço do seu pecado na cruz. Ele fez o impossível! Ele fez o que ninguém mais teria feito, o que ninguém mais poderia fazer.


E agora, nenhuma condenação mais há para àqueles que estão em Cristo Jesus! 


E por isso, meus irmãos, agora nós que cremos em Cristo,


“Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou. Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas?” (Romanos 8:28-32)

  

Agora, também é igualmente verdade que, se você não é nascido de novo, você não tem comforto algum. Meu querido amigo que lê essa carta, saiba que se Cristo não é o seu tesouro mais precioso e se você ainda ama o mundo, você pode estar certo que você não tem direito algum de assumir que Deus vai lhe salvar. Você não tem direito de se gloriar com os filhos de Deus que lêem essa carta. 


Na verdade, para você só há expectativa de juízo. Portanto, meu querido amigo que lê ou escuta essa carta, se você não é um dos filhos de Deus, se você ainda é um dos filhos desse mundo sob o domínio de Satanás, é tempo de voltar-se a Cristo. Confesse seus pecados, se arrependa e confie em Cristo somente para sua salvação e o Deus de toda a provisão será o seu Deus, e o comforto dos filhos de Deus será o seu comforto.


Finalmente irmãos, aos fiéis em Cristo, “procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição” (2 Pedro 1:10).


Em Cristo,


Anderson Oliveira



*****



O livro de Hebraico 1

Estudando Hebraico
enquanto trabalho na biblioteca

De dois em dois, Camaradagem Puritana

De dois em dois, Camaradagem Puritana

4 de Agosto de 2021, por westportexperiment


Na última semana eu tive um estudante do Seminário Puritano junto a mim (que sou Puritan Alum, classe de 2005), para um evangelismo urbano intensivo na área central de Rhode Island. Anderson Oliveira, um estudante presbiteriano brasileiro, havia estado em minha apresentação sobre Missão Paroquial Reformada em Grand Rapids em Fevereiro e expressou interesse em estagiar. Assim, ele veio de avião na última quarta e nós alocamos várias horas juntos durante alguns dias trazendo o Evangelho do Reino para minha comunidade de Warwick e, especialmente, para as paróquias de South Providence. Foi uma alegria tê-lo junto e participando.


Ele começou me ajudando com a tarefa mundana de imprimir e dobrar os panfletos evangelísticos. Uma tarefa nada glamorosa, mas sempre necessária. O panfleto que usamos em particular para a maioria das visitas incluía a profecia do Servo Sofredor de Isaías 53. Nós usamos esse texto frequentemente como uma entrada - tal qual o bom e velho Felipe - para anunciar a pecadores o remédio vicário. Cada conversa à porta foi uma porta de entrada para os céus aberta na terra. Mas ainda que as portas dos céus tenham sido abertas para pecadores, o Espírito de Deus precisa movê-los a dar aquele passo vital. E assim, eu e Anderson frequentemente paramos para clamar ao Senhor que Ele viesse mandar seu vento irresistível, que sopra onde Ele quer.


Uma das pessoas que visitamos foi um Haitiano. Eu havia conhecido sua família antes, mas não ele. Mas que figura ele era! “João” é alguém muito trabalhador, honesto e de um grande coração. Ainda que já tendo passado a idade de se aposentar, ele ainda trabalhava, dando um ótimo exemplo para todos que convivem com ele. Mas e quanto a sua compreensão da graça? Era no melhor dos casos duvidosa. Ainda que ele dissesse ter Jesus “em seu coração”, ele tinha deixado de ir a igreja desde a época do Covid. Nós o chamamos a relembrar que Jesus de fato construiu Sua Igreja, e que é a “casa de Deus” onde os meios de graça são disponibilizados para pecadores. Ele não pode desprezar essa instituição sem colocar sua alma em perigo.

Eu tive o prazer de introduzir Anderson a alguns dos meus contatos regulares mais receptivos. Que bom que meu amigo Irlândes “Sean” estava em casa, e nós tivemos uma ótima visita. Como sempre, foi muito divertido. Mas nosso trabalho é dos mais sérios, e Sean sabe que eu estou em uma empreitada celeste. Começando em Isaías 53, nós falamos sobre a promessa do Evangelho como sendo a gravidez de uma mulher representada no Antigo Testamento, e que o Novo Testamento é o nascimento, a revelação daquele antigo e bendito plano de salvar-nos do pecado e da miséria. Eu o desafiei quanto ao seu descuido por sua alma e reiterei que nós íamos amar tê-lo novamente em nossa igreja.


Além de Sean, nós tivemos algumas visitas realmente boas com algumas pessoas na minha paróquia de Warwick. Eu conheci “Laura”, uma senhora branca, de seus 60 e poucos anos, já em 2016. Naquele tempo, eu perguntei como poderia orar por ela e por seu esposo. Ela me falou, na época, sobre sua filha adulta que já estava sóbria por cerca de três meses e que ela estava esperançosa de que ela nunca mais voltasse ao alcoolismo. Quão trágico foi o fato de que, quando a perguntei na semana passada como ia sua filha, ela compartilhou que ela morreu em uma derrota na luta contra o vício. Foi difícil saber como responder naquele momento. Mas nós dissemos para ela que ainda que a Bíblia não dê nenhuma resposta ‘fácil’ para as tragédias dessa vida, ela dá, de fato, A Resposta, o Senhor Jesus Cristo, que foi o maior de todos os sofredores, e que provou da morte por todo homem. Nós oramos com ela e com sua família, e ela pareceu estar agradecida. Por favor, orem para que o Senhor venha a trazê-la para a cruz e para o túmulo vazio.


Anderson foi extremamente útil com o Espanhol, o qual era claramente melhor que o meu. Muitas das casas na minha paróquia de South Providence tem pessoas que falam espanhol, a maioria da República Dominicana. Ainda que eu tenha conduzido maior parte das conversas, com prazer eu dei lugar para escutar enquanto ele conversava livremente em Espanhol. Que encorajamento — e que benção prática!


Ainda que eu tenha poucas pessoas ou quase que ninguém fale português em minhas paróquias, Rhode Island e o sudeste de Massachusetts tem muitas - de Brasil, Portugal, Cabo Verde e Azores. Eu decidi que nós iríamos ter um pouco de comida brasileira e nós fomos maravilhados com deleite duplo de ter comida excelente e de conhecer os proprietários, que claramente eram Cristãos devotos e crentes na Bíblia. Nós tivemos a oportunidade de compartilhar um pouco da fé reformada, plantar algumas sementes. Meu filho, Gabriel, visitou o lugar no dia seguinte, cuja indicação certamente os agradou. E eu também levei Anderson para a comunidade de East Providence e o deixei tomar a liderança. Casa após casa fala Português (e eu simplesmente sorria e acenava!). Se Anderson voltar alguma vez, ele talvez tenha de voltar comigo novamente para essa pequena nova paróquia.


Ah, e como Anderson também canta os Salmos – usando a versão metrificada de 1650 e nada mais! – nós desfrutamos de salmodia no caminho. E foi um prazer o receber em nossa casa no Sabbath (dia do Senhor). E não foi surpresa que o pessoal daqui de casa se apegou a ele.


Nós também visitamos os santos. Que alegria foi parar na casa de um antigo amigo, um pastor do Congo e sua família que frequentou nossa igreja durante algum tempo anos atrás por meio do trabalho evangelistíco. Anderson e eu fomos a essa vizinhança para compartilhar o evangelho, tão gratuitamente como recebemos. Mas aqui nós damos e recebemos, e fomos refrescados e renovados pela comunhão cristã.


Um pequeno oásis, com certeza. E ainda mais especial em que esses crentes refletem a multiforme diversidade do Reino, consistindo de toda tribo, língua e nação. Quando Anderson se juntou a mim, quantas línguas poderiam ser faladas debaixo daquele teto? Anderson adicionou Português ao meu Inglês e Espanhol, enquanto Sebirayi trouxe junto Swahili, Francês, e ao menos mais uma língua tribal Africana. Um pedacinho do Pentecostes!


* * * *



Traduzido com permissão por Anderson Oliveira. O post original pode ser encontrado em https://westportexperiment.com/2021/08/04/rpm-two-by-two-puritans-in-arms/

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

A arte e o artista arteiro

 



A arte e o artista arteiro

Arte...


Estultícia humana por inspiração divina

Beleza que encanta e som que fascina,

Encanto da ordem, simetria, orientação

Também da bagunça, algazarra e fusão


Desde o início que o homem é artista

Imitando aprendeu do Criador

O primeiro poeta fez tudo belo a vista

O segundo, em prazer, contemplou


Malcriação veio logo em seguida

Rebeldia de inveja e luxúria

A arte se tornou em armadilha

E a comida, no ventre, injúria


O artista se tornou arteiro,

Rebelde sem causa, fugaz, traidor

Peregrino sem terra, expatriado estrangeiro

Réu vitimado da dor que criou


O poeta fez da arte seu ídolo

O escultor à pedra sacrificou

O escritor fez da pena o seu rito

E o cantor do aplauso senhor


E agora, a criação geme e aguarda

Dos filhos de Deus, a revelação 

Para hoje no mundo redimir a arte

Amanhã, desfrutar da glória em Sião


Anderson Oliveira, 16.02.2021


Imagem via unsplash

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Carta aos irmãos no Brasil - 1a de Outono

 Carta aos irmãos no Brasil - 1a de Outono

Sexta, 11 de Setembro de 2020


Anderson Oliveira, servo de Cristo, herdeiro junto com os irmãos das maravilhosas e ricas promessas dadas ao povo de Deus por meio de seu filho amado, Cristo Jesus, em quem também temos redenção, a remissão dos pecados.

Lhes escrevo acerca dos últimos dois meses em que estive morando aqui na cidade de Grand Rapids enquanto oro, estudo e trabalho para tornar-me um servo mais útil na lavoura do meu senhor.

Agora, as férias já se foram e o semestre já voltou a todo o vapor. Estou bastante ocupado, com muitas leituras e atividades no seminário, estudando e evangelizando com certa frequência. Esse semestre vai ser mais difícil que o anterior, pois estou com mais disciplinas, disciplinas mais desafiadoras, e também trabalhando. Mas estou animado e pretendo dar o meu melhor enquanto estiver aqui. Mesmo sendo desafiador, é muito bom estar com uma rotina novamente e certamente a qualidade dos professores, das aulas e do material a ser estudado são encorajadores.

Esse semestre estou cursando as seguintes disciplinas: “O Ministro Cristão e seu Ministério”, “Prática de Pregação”, “Soteriologia”, “Gramática e Sintaxe do Inglês”, “Grego I”, “História da Igreja Moderna” e “O Mundo da Bíblia”. Estou auditando “Encontro com religiões do mundo” e nas férias cursei “Avivamento no século 18”.  Peço que orem por mim nesse semestre para que eu honre ao Senhor com boas notas mas principalmente para que eu aprenda mais de Cristo, por meio de Cristo e para glória de Cristo.

Devo dizer também que os últimos dois meses foram um tempo de crescimento espiritual para mim. Durante as férias li muito e algumas dessas leituras me ajudaram bastante na caminhada com Cristo, especialmente alguns livros de John Owen, um autor que recomendo de todo o coração aos irmãos.

O fato é que dia após dia tenho descoberto mais das mazelas e podridões do meu coração mas também dia após dia tenho achado mais e mais misericórdias em Cristo para saciar a alma e me firmar na caminhada. Meus irmãos, o gosto do pecado é amargo e a santificação é mais lenta do que queríamos que fosse, mas em Cristo há suficiência. Mais do que suficiência, abundância. Mais do que abundância, doçura e deleite. Como diz o apóstolo Pedro, em Cristo já temos tudo o que é necessário para uma vida piedosa.

Tenho experimento isso também no âmbito da igreja. A simples experiência de frequentar uma comunidade saudável e bíblica, de ter conversas espirituais no dia do Senhor, ir nas reuniões de oração, cultivar a comunhão dos irmãos, tudo isso tem sido um bálsamo e um alívio nas noites escuras da alma. Da mesma maneira, diante das tentações de confiança excessiva e orgulho espiritual, a comunhão cristã tem servido como uma pedra de amolar, muito apropriada para aparar as arestas e tornar a ferramenta novamente amolada e útil.

Sei que muitos de vocês no Brasil ainda estão sem poder frequentar a igreja local ou estão ainda com uma experiência muito limitada de comunhão devido às restrições sanitárias. Encorajo os irmãos a orar fervorosamente e confiar nas promessas de provisão do Senhor. Busquem o reino de Deus e a sua justiça e tudo aquilo que for necessário para o mantimento será provido e a vontade boa, perfeita e agradável do Senhor certamente será cumprida. Não desanimem com o isolamento mas busquem em oração, assim como a viúva persistente retratada em Lucas 18, e certamente Deus, que é um juiz justo e bom vai ouvir vocês e lhes dar uma sentença favorável. Digo por experiência própria, Deus responde orações. E mais rápido do que a gente pensa.

Finalmente, meus irmãos, mantenham em mente aquilo que o apóstolo Paulo recomenda no final da carta aos Filipenses. Façam todas as suas necessidades conhecidas diante do Pai e ele vai guardar o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus. E “tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento”.


Em Cristo,

Anderson Oliveira


quinta-feira, 9 de julho de 2020

Carta aos irmãos no Brasil - 2a de Férias

Carta aos irmãos no Brasil - 2a de Férias

 

Quarta, 8 de Julho de 2020

 

Anderson Oliveira, filho de Deus, eleito por graça e chamado por misericórdia ao ministério para compartilhar as boas novas daquele que me resgatou do domínio das trevas e me transplantou no reino do filho do seu amor[1].

Escrevo aos queridos amigos e amados irmãos acerca do último mês em que moro na cidade de Grand Rapids, enquanto me preparo para o serviço do reino por meio de estudo teológico, evangelismo, oração e imitação de homens mais piedosos do que eu.[2]

Esse mês tem sido de muito aprendizado e descanso para mim. Estou cursando duas disciplinas de férias (uma sobre avivamento e outra sobre missões para seitas). Além disso, tenho estudado mais sobre educação cristã e cosmovisão, história americana, ética cristã e outros assuntos de interesse pessoal. Estou bem ocupado, lendo e escrevendo mais do que o esperado para as férias, mas também feliz e satisfeito com a oportunidade que o Senhor me dá de usar o tempo que ele me deu de forma sábia e proveitosa.

Durante minhas férias, tenho sido inundado com a misericórdia de Deus demonstrada por meio das amizades cristãs que tenho desenvolvido aqui. Contrastando com a temperatura do verão que agora já chega a 30 graus celsius, a comunhão cristã tem sido um refrigério constante e um ótimo antídoto para o mormaço espiritual. Estou em contato com amigos e irmãos (principalmente brasileiros) que me encorajam e estimulam na caminhada cristã. Apesar do convívio mais frequente com brasileiros, também alguns amigos americanos tem se mostrado muito especiais. Me alegro em ver a beleza da unidade igreja que, assim como em todo o mundo, nasce da semente do Evangelho mas brota como uma flor de cores peculiares e traços característicos nesse lado da linha do Equador. 

Irmãos, tenho pensado ultimamente em como Deus se manifesta de forma peculiar em cada cultura. Se na minha terrinha de chão rachado e barro seco, o Senhor nos dá uma boa água de côco e uma brisa soprando o balanço da rede para aliviar o calor, aqui eu não tenho isso, mas tenho uma coca-cola geladinha e uma cadeira dobrável para botar do lado de fora e olhar o céu estrelado. Se aí temos festas juninas com uma fogueira e milho assado, aqui temos a cultura de fazer um bonfire com os amigos e assar um marshmallow para rechear um sanduíche de biscoito que leva também um chocolate ao leite.

É, eu sei, não é tão saudável e provavelmente muitos de vocês não fariam essa troca. Talvez eu mesmo não fizesse se tivesse opção. Mas estou satisfeito com o que o Senhor me deu para desfrutar no dia de hoje. Não é interessante que a graça de Deus seja multiforme? Não é belo perceber que, como crentes, podemos nos alegrar e dar glórias a Deus tanto pelo milho assado como pelo biscoito de marshmallow? Dou graças a Deus pelo forró e pelo rap, pelo hip hop e pelo samba, pelas festas juninas e pelo 4 de Julho. Todas essas coisas e cada uma delas, tendo passado pelo crivo do discernimento cristão[3] e sendo recebida com graças[4] são apropriadas para o cristão. Porém, se a consciência sussurra e condena, não podemos proceder, pois tudo que não provém de fé é pecado[5].

Que em todas as coisas possamos discernir e fazer uso da verdadeira liberdade cristã, sem libertinagem nem desculpas esfarrapadas que apenas revelam mau caratismo e hipocrisia. Ao mesmo tempo, que possamos exercitar a verdadeira liberdade cristã ao dar graças e desfrutar de tudo aquilo que o Senhor nos deu para o nosso deleite nEle, pois quer estejamos comendo, bebendo, dançando, cantando, pulando ou dormindo, devemos fazer tudo para glória de Deus[6], dando graças ao Pai, por meio de Cristo, no Espírito.

Pensando ainda em liberdade cristã e seu uso, gosto de lembrar e me guiar pela seguinte regra: seja criterioso consigo mesmo e caridoso com o seu irmão. Se o Senhor Jesus se fez homem e desceu ao nosso nível em humildade servil[7], certamente eu também devo considerar os outros como superiores a mim mesmo e não ser rápido em acusar levianamente alguém, mesmo que essa acusação seja apenas no meu coração, pois eventualmente vai sair pela boca[8]

É tão fácil nós pensarmos mal de alguém, não é mesmo? Mas facilmente esquecemos o que Paulo nos ensina em Gálatas 6 versos 1 a 3:

“Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o com espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado. Levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis a lei de Cristo. Porque, se alguém julga ser alguma coisa, não sendo nada, a si mesmo se engana.” (Almeida Atualizada)


O próprio Jesus também nos ensina de forma tão clara que antes de tirar cisco do olho dos outros temos que tirar a trave dos nossos olhos. Tenho pensado nesse texto ultimamente também. Quantas traves será que eu tenho nos meus olhos e nem sei? Certamente são muitas, mais do que posso contar. Não é por acaso que o Salmista pede a Deus que ele não leve em conta os seus muitos pecados, inclusive os pecados ocultos, isto é, os que ele nem sabe que comete[9]

Realmente, se o Senhor fosse contar as nossas iniquidades, em um bom nordestinês, a gente tava era lascado. Mas graças a Deus que há salvação em Cristo e que por causa da morte de Cristo na cruz eu posso morrer para meus pecados, por causa da sua ressurreição posso viver uma vida eterna junto com o Pai. Glórias a Deus pela sua salvação. Não tenho como não servir a um Deus gracioso como esse. 

Querido amigo, amado irmão, espero que você que me lê ou escuta nesse momento já tenha a segurança eterna de crer e confessar esse Deus altíssimo que se revelou em Cristo e alcançou ao mundo por meio de seu Espírito. Se sim, se alegre em Cristo, viva para Ele. Se não, ainda há tempo, só não sei o quanto. Seja qual for a sua relação com Deus, considere o que a palavra de Deus lhe diz hoje:

“Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus pensamentos; volte-se ao Senhor, que se compadecerá dele; e para o nosso Deus, porque é generoso em perdoar.” (Isaías 55:6-7, Almeida Atualizada)       


Do seu amigo e irmão indigno,

 

Anderson Oliveira.

 



[1]  Colossenses 1:13.

[2] Hebreus 13:7.

[3] Veja os 10 mandamentos em Êxodo 20 em consonância com Romanos 13:9-10. Ver também Filipenses 1:9-11.

[4] 1 Coríntios 10:30.

[5] Romanos 14:23.

[6] 1 Coríntios 10:31.

[7] Filipenses 2:5-11.

[8] Lucas 6:45.

[9] Veja todo o Salmo 130.


segunda-feira, 8 de junho de 2020

Carta aos irmãos no Brasil - 1a de Férias

Carta aos irmãos no Brasil - 1a de Férias

Segunda, 8 de Junho de 2020 

Anderson Oliveira, seminarista brasileiro, comedor de camarão e apreciador de um bom forró em terras estadunidenses de fast-food, de estações bem definidas e espaços pessoais delimitados, onde também desfruto de verdadeira comunhão cristã que transcende nacionalidades, pois vem de um Deus altíssimo em quem não há diferença entre judeu e grego, negro e branco, brasileiro ou americano[1].

Escrevo aos amados irmãos acerca dos meus últimos dois meses morando na cidade de Grand Rapids e das experiências e aprendizados desse período. Aquilo que tenho vivido coram Deo (isto é, diante de Deus) procuro compartilhar com vocês na esperança de matar a saudade, encorajar e, quem sabe, até instruir os irmãos, seja por exemplo ou contraexemplo, lembrando sempre que é em Cristo somente que temos o perfeito tesouro de conhecimento e sabedoria[2] e perfeito modelo, em quem somos conformados de glória em glória pelo seu Espírito[3].

Hoje, enquanto escrevo aos irmãos, já estou de férias e desfruto de relativa tranquilidade e paz de espírito. Mas confesso que nos últimos meses o descanso e a quietude tem sido mais exceção do que regra. Além de toda a adaptação esperada de um seminarista internacional, tive de enfrentar, como todos os amados, a crise da pandemia. Com o avanço do vírus, as aulas foram transmitidas ao vivo por vídeo e o acesso à biblioteca foi restringido.

Mesmo tendo buscado me preparar de antemão, vejo agora que subestimei o rigor acadêmico desse seminário. Dada a minha inexperiência e o processo de adaptação, tive muitas dificuldades em fazer todos os trabalhos dentro do prazo e precisei pedir uma extensão, que me foi graciosamente concedida pelo Dr. Beeke.

Devo dizer que a maior parcela de culpa não foi do vírus, mas foi minha. O acesso limitado apenas a recursos digitais de fato dificultava as coisas, mas não me impedia a pesquisa, uma vez que foram disponibilizados muitos recursos online. Mas o acúmulo de atividades foi o principal fator que contribuiu para um semestre desgastante.

Foram dias difíceis, de muita oração e trabalho. Por necessidade, comecei a estudar orando e dou graças ao Senhor por me dar ocasião de aprender isso. Sinto que hoje posso compreender um pouquinho melhor o lema hermenêutico do reformador João Calvino, orare et labutare (orar e trabalhar). O Senhor me sustentou pela sua graça e misericórdia e pude concluir o semestre com excelência, inclusive, tendo felizes surpresas de receber notas boas no final. Não foi fácil, mas a boa mão de Deus nunca largou a minha, ainda que muitas vezes eu fizesse menção de soltá-la.

Foi por isso, amados, que demorei tanto a escrever nova carta. Peço perdão aos irmãos que aguardaram sem resposta o feedback do mês passado. Mas claro, minha vida aqui não se limita a estudos. Pela graça de Deus, tenho recebido o caro presente de boas amizades, tanto de brasileiros que também estudam aqui como de irmãos americanos muito queridos. Junto com a minha família e amigos do Brasil, são eles que tem me sustentado nos dias mais difíceis e que tem me dado broncas e conselhos para o viver piedoso, à luz das Escrituras[4].

É muito interessante perceber que, apesar das diferenças culturais, da diversidade de tom de pele, das muitas línguas e trejeitos, o Senhor sempre reuniu, reúne e continuará reunindo para Ele um povo multiétnico[5]. Sou grato ao Senhor por poder viver essa experiência transcultural. Creio que seja algo enriquecedor para todo ser humano e especialmente belo e proveitoso para o Cristão.

Queridos, me permitam tratar de outro assunto agora. Temos vivido dias difíceis de polarizações políticas, de guerra de narrativas e de distorção da verdade. Me parece que tanto nos Estados Unidos como no Brasil, há uma grande guerra de egos e um esforço monumental de autoafirmação em detrimento da afirmação da verdade. Isso perpassa todas as posições políticas, todas as cores de pele, todas as línguas e todas as culturas.

É triste constatar, mas é verdade: assim como a imagem de Deus vem à todo homem na criação, também, o pecado chegou a toda a humanidade na queda de Adão, distorcendo essa imagem divina. Nós temos um grande problema hoje, que vai além de todo e qualquer dano que um vírus ou grupo político possa causar. Há uma desgraça na condição humana: o pecado.

Precisamos lembrar hoje das palavras do Apóstolo Tiago no século primeiro:

Donde vêm as guerras e contendas entre vós? Porventura não vêm disto, dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam? Cobiçais e nada tendes; logo matais. Invejais, e não podeis alcançar; logo combateis e fazeis guerras. Nada tendes, porque não pedis. Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites. Infiéis, não sabeis que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus. (Tiago 4:1-4, Almeida Atualizada)

Qual é o problema da humanidade? Será que é o presidente, seja o atual ou algum dos anteriores? Algum partido, movimento, grupo revolucionário ou conservador? Será que é o preconceito, em suas muitas formas? Será que é esse mesmo o problema?

Não, queridos, não é. Nosso problema é o pecado. Não o pecado do meu inimigo, nem o pecado daqueles com quem eu convivo. O meu maior problema é o meu pecado e o seu maior problema é o seu pecado.

E se não entendermos realmente nosso problema, como vamos achar solução? Se não deixarmos essa verdade assentar no coração para o arrependimento do nosso próprio pecado, e se não movemos as mãos em socorro do nosso próximo, de nada adianta nossa religião, pois é falsa e vã[6]. Depois disso, e somente depois disso, podemos pensar em reformar a sociedade, pela graça de Deus e na dependência do Espírito. Mas antes, lhe convido a olhar para seu próprio coração e apresentá-lo do jeito que está a Deus.

Não foi o senhor Jesus que disse para antes de querer tirar o cisco do olho dos outros tirar a trave dos nossos[7]? Não foi ele mesmo que se fez homem e habitou entre nós[8], ainda sendo Deus, se humilhou na condição humana[9] para servir e lavar os pés[10] daqueles que ele já sabia que iriam o trair[11]?

Em tempos de conceitos flutuantes, preciso dizer de maneira clara: não defendo aqui bandeiras nem partidos. Quem estiver agora, nesse instante, lendo (ou ouvindo) algo diferente do Evangelho de Cristo, pode ser por falha minha, mas não é o que quero comunicar. Meu ponto é esse, e somente esse: nosso grande problema é o pecado, e a única solução é o evangelho e não há real esperança fora disso.

Amados, como de costume, tenho compartilhado com vocês um pouco da minha vida e uma reflexão pessoal. Mas gostaria de adicionar a esta carta um pedido de oração: tenho buscado discernir melhor a vocação para a qual o Senhor tem me chamado e ultimamente tenho me sentido mais e mais inclinado à área de educação cristã. Não sei muito bem o que o Senhor tem preparado para mim no futuro, mas peço que orem por isso, assim como pelo meu ministério de forma geral.

Encerro essa carta dizendo que estou disponível aos irmãos para o que precisarem, estando apenas a uma mensagem, e-mail ou ligação de distância. Que o nosso Senhor Jesus nos guarde em sua paz e nos dê paz em todas as circunstâncias. O Senhor seja com vocês[12].


Do seu amigo e irmão indigno,

 

Anderson Oliveira.



[1] Gálatas 3:28.

[2] Colossenses 2:3.

[3] 2 Coríntios 3:18.

[4] 2 Pedro 1:3-5.

[5] Apocalipse 5:9.

[6] Tiago 1:27.

[7] Mateus 7:3-5.

[8] João 1:14.

[9] Filipenses 2:5-11.

[10] João 13:5.

[11] João 6:70.

[12] 2 Tessalonicenses 3:16.


domingo, 7 de junho de 2020

Dez razões pelas quais acredito que a Bíblia é a Palavra de Deus R. A. Torrey

Tradução do livreto "Dez razões pelas quais acredito que a Bíblia é a Palavra de Deus"


Esse curto livreto de Reuben Archer Torrey, pastor e missionário congregacional americano nascido no século 19, foi escrito no contexto do crescente ceticismo teológico cultivado nos círculos acadêmicos liberais e neortodoxos nos últimos séculos, com o desenvolvimento da chamada alta crítica textual. Apesar de ser mais conhecido por sua defesa polêmica de batismo com o Espírito Santo, Torrey também teve uma certa influência no resgate da confiabilidade das Escrituras em tempos de ceticismo, tendo se esforçado por dar palestras e produzir materiais defendendo a Bíblia como palavra de Deus em linguagem popular. Aqui vai apenas um gostinho das obras dele no assunto: uma tradução do original em domínio público publicado em 1891. Espero que, apesar do estilo de escrita antigo e das limitações de uma tradução, esse material possa abençoar você, leitor.

Segue abaixo os links para a versão em ebook e em texto simples:


Estou em Manhattan, NY…

Nunca pensei que viria para os EUA, muito menos NY. Nunca planejei e nunca desejei para falar a verdade. Na providência divina o Senhor me t...